Independentemente de concordar ou discordar de suas posições políticas, é inegável que Nikolas Ferreira entendeu antes de muitos — especialmente antes de boa parte da esquerda — que ser parlamentar hoje é, antes de tudo, ser um comunicador. E mais do que isso: é compreender que comunicação não se resume a discursos bonitos ou à liturgia da função. Ela exige método, estrutura, repetição e coragem para ocupar todos os espaços possíveis de atenção.

A boa performance de Nikolas se explica menos pelo acaso e mais pela estratégia. Ao abrir mão de assessores políticos tradicionais e montar um gabinete voltado à produção de conteúdo — com roteiristas, editores, estrategistas e especialistas em narrativa — ele trouxe para a política um modelo semelhante ao de uma produtora digital. Não se trata apenas de falar para sua bolha: ele fala pela sua bolha, com linguagem, ritmo, estética e conflitos que dialogam diretamente com o sentimento de seus seguidores.

O segredo está no método. Nikolas não se comunica apenas na véspera da eleição. Ele transforma cada sessão, cada voto, cada embate em conteúdo — pensado para viralizar, emocionar e dividir. Sim, é verdade que ele é frequentemente acusado de disseminar fake news. Sua estratégia, embora eficiente, muitas vezes se ancora na desinformação, na radicalização e na construção de inimigos e narrativas simplificadas. Mas não quero entrar nesse mérito. Há, de fato, desvios éticos — mas isso não invalida o fato de que sua atuação comunica, engaja e mobiliza. E isso, por si só, é uma aula (ainda que controversa) para a classe política.

O erro da maioria dos parlamentares está na crença de que comunicação é ório. Não é. A política do século XXI exige presença digital estratégica, com equipe técnica capacitada, produção contínua de conteúdo e uso inteligente das plataformas. O eleitor moderno quer ver, ouvir, entender e se conectar. A base política tradicional ainda opera sob a lógica da troca de favores, da articulação partidária e da comunicação episódica — o famoso “feijão com arroz” institucional. Enquanto isso, nomes como Nikolas ocupam o espaço do discurso, da emoção e da disputa narrativa. Não é apenas sobre ter razão — é sobre ter atenção.

Em vez de rejeitar o modelo de Nikolas por completo, é hora de compreendê-lo e superá-lo. A política precisa reaprender a comunicar com propósito, responsabilidade e visão de futuro. Porque o eleitor já virou a chave. Quem ainda não virou foi a classe política.